segunda-feira, outubro 22, 2007

It’s lunch time, take a break, rest and energise!

“ o meu amigo Luís Mateus, animador da TSF, especialista em música étnica, apaixonado pelo seu trabalho, sempre andou numa correria à procura do melhor concerto, da melhor fonte de pesquisa, da melhor entrevista, da melhor reportagem; longas horas de escrita, longas noites de rádio, muitos cafés e outros tantos cigarros, alimentação descuidada, e pouco respeito pelo sono, foi encontrado sem vida num banco de autocarro, causa de morte: ataque cardíaco, tinha 26 anos.”

1890
Grandes unidades fabris mantinham turnos de trabalho de 12 horas, sete dias por semana numa escravidão que tanto tinha de sôfrega como de pobre. Nos anos 20 a redução passou de 60 para 48 horas semanais de trabalho, e com ela a diminuição do número de acidentes, do absentismo e o aumento da produtividade. Após a Segunda Grande Guerra a prática passou a 8 horas diárias, 5 dias por semana, 40 horas semanais, hoje menos e tendencialmente a manter-se a redução, tudo porque o trabalho serve o homem e não o contrário.

No entanto, em pleno século XXI parece que andamos esquecidos do que se conseguiu até aqui: a redução do esforço, o aumento dos tempos de descanso, o usufruto da hora do almoço. O tempo para almoço hoje é curto, ir a casa é um “luxo” e muitas vezes comemos em pé, a ouvir as conversas de quem almoça com o telemóvel, e a sofrer o fumo do cigarro de quem já bebe o seu café – qualidade vida?

Os gastos financeiros, já para não falarmos nos impagáveis custos humanos, são óbvios: novos recrutamentos, novos processos selectivos, novas fases de integração, novos períodos de adaptação, mais formação interna e externa, nova integração na equipa, novo aumento do custo/hora da pessoa.

Mas voltemos então aos tais “bons velhos hábitos” pois os períodos de descanso têm sido alvo de uma, cada vez maior, atenção por parte das empresas que querem ter um futuro sustentado. Hoje trabalho “fora de horas” é sinónimo de desorganização e de desrespeito, as férias são gozadas no ano respectivo e as horas de almoço são para “Almoçar” preferencialmente fora da empresa.

Os estudos, de resto, demonstram a prática. Quanto maior o número de horas de trabalho maior o impacte na saúde física e psicológica das pessoas, principalmente na saúde psicológica (Sparks, Cooper, Fried and Shirom, 1997).

Para Bruce Kirkcaldy “ uma actividade que é indicadora do quão acelerado é o dia de trabalho, bem como redutora do stress, é o tempo que se tira para o almoço.”(2002).
Este cada vez é menor, 40% dos trabalhadores americanos dizem não fazer realmente um intervalo para almoço e que a média da sua duração é de aproximadamente 30 minutos (Levine, 1998).

Kirkcaldy numa amostra de mais de 300 médicos, com uma média semanal de 49 horas de trabalho, observou que apesar da relativa proximidade da sua residência, cerca de metade deles não se deslocavam a casa na sua hora de almoço, e 12% só o faziam ocasionalmente. Curiosamente foram os que mais horas de trabalho faziam, aqueles que menor intervalo para almoço tiravam. A duração do intervalo para almoço parece estar associada à diminuição do stress. Neste estudo quem vive um almoço mais longo vive também em menor stress.


Interessa aliar a quantidade de tempo à qualidade do tempo passado – como passam as pessoa s a sua hora de almoço?
Basta olharmos à nossa volta e temos todos os exemplos possíveis. Há quem saia para um almoço de negócios e junta a refeição ao trabalho, quem aproveite o tempo para almoçar com os amigos, quem partilhe a refeição com os colegas de trabalho em espaço de refeitório, quem traga comida feita de casa, quem aproveite para ir ao ginásio, há quem não almoce, quem vá a casa almoçar, quem dê um passeio sozinho, quem aproveite para namorar, agora há até quem coma enquanto vê um filme no cinema, e desde sempre quem por Espanha durma a sesta.

Isto parece ser comum na Europa e nos Estados Unidos; observou-se que 55% das pessoas que trabalham em escritório, fazem muitas outras coisas para além de comer na sua hora de almoço. Valerie Frazee no seu estudo de 1996, observou que 53% das pessoas socializavam; 44% passeavam; 38% faziam almoços de negócio, 37% liam; 28% aproveitavam para fazer telefonemas pessoais; 27% iam às compras; 14% faziam exercício físico; 9% iam a consultas médicas; 6% geriam o seu dia a dia e 1% ia a entrevistas de emprego.

A qualidade do tempo é pois importante para além da quantidade.
Trabalhamos porque precisamos, quer seja do dinheiro, quer seja do prazer de trabalhar, não esqueçamos que o trabalho foi inventado pelo humano.
Mas que não se vire o feitiço contra o feiticeiro, porque há muitas outras coisas que o homem precisa, primeiro para manter-se vivo, depois para ser feliz, uma delas é: Comer bem!

Fontes Bibliográficas:
Frazee, V.( 1996). The 36 – Minute Lunch Hour. In: Personnel Journal. 75 (6). pp. 21 – 25.
Kirckcaldy, B.(2002). The Impact of Work Hours and Schedules on the Physical and Psychological Well-Being in Medical Practices. In: European Psychologist. 7(2). pp. 116 – 124.
Lisper H.O.; Ericksson, B, (1980). Effects of the Length of a Rest Break and Food Intake on Subsidiary Reaction-Time Performance in a 8 – Hour Driving Task. In: Jounal of Applied Psychology. 65(1). pp.117 – 122.
Gal, R.; Mangelsdorff, D.(1991) Handbook of Military Psychology. England: wiley & Sons