terça-feira, julho 17, 2007

toxic

Pleno Verão.
Praia de areia branca numa ilha distante, um bom livro e o silêncio…férias para desintoxicar!

Para abrir estas crónicas não falaremos de stress, vamos antes descodificar um termo diferente – toxicidade. Este é o primeiro de três apontamentos sobre toxicidade organizacional, desta feita iremos perceber melhor o conceito de toxina organizacional, no mês de Agosto veremos como é que elas se desenvolvem e em Setembro encontraremos formas de as ultrapassar. Tudo regado com umas excelentes férias.

Sim? Não?
gasta a maior parte do tempo em tarefas rotineiras?
investe a maior parte das suas energias diárias a gerir conflitos?
é conhecido como um bombeiro de serviço?
os seus recursos humanos deitam as mãos à cabeça?
tem objectivos completamente irrealistas para concretizar?
a concorrência já lhe foi buscar as melhores pessoas?
tem ganas de mandar o conselho de administração às urtigas?
é cada vez mais difícil encarar o despertador de manhã?


Toxinas Organizacionais
As más experiências podem ser aprendizagens organizacionais? – podem, é claro. O que caracteriza uma organização tóxica, não é o facto de existir um afecto negativo perante uma situação menos boa, mas sim, como se demonstra a resposta a esse afecto. Actua-se de forma construtiva ou negligencia-se a questão? – somos construtivos? - ou punitivos?

Ao contrário do que possa parecer, uma não resposta, o achar pouco pertinente, ou sem significado, pode não levar a um conflito aberto, mas deixa algo de tóxico na relação. Um conflito implícito que, a ser continuado, desmotiva qualquer tipo de investimento dos recursos humanos na organização normalmente termina na perda das melhores pessoas e dos melhores negócios.

Mas o que são organizações tóxicas e não respostas? – lá vêm as variáveis soft e as conversas do psicólogo… ou talvez não…

Experiências negativas na organização calha-nos a todos, as suas origens são mais ou menos comuns:
1) acções abusivas da gestão;
2) políticas organizacionais pouco razoáveis;
3) colegas e clientes agressivos e,
4) gestão pobre ou pouco dinâmica.


Que tipo de toxina é a sua?
Uma toxina pode ser intencional quando certas chefias utilizam a pressão como mecanismo de controlo, esta pressão funciona como uma ameaça que imobiliza os colaboradores, que não colocam a autoridade em causa. Obviamente, neste caso, as pessoas gastam todo o seu tempo a manterem-se a salvo e a esconderem as suas pistas da chefia em vez de se concentrarem no desempenho organizacional.

Outra forma de manifestação de uma toxina é a da incompetência. Diz-se toxina de incompetência quando não existe a capacidade de decidir, ou não existe um estilo de gestão coerente, ou há controlo de pormenor em cada tarefa de trabalho. Toxinas deste tipo frustam recursos humanos competentes que normalmente manifestam elevados indicadores de stress e que mais cedo ou mais tarde deixam a organização.

Outra toxina poderosa é a infidelidade, ou a da traição, surge quando alguém destrói a confiança do outro. Quando, por exemplo, se estimula alguém a partilhar informação importante acerca de outros e depois, à revelia, essa informação é mal utilizada. Ou quando se defraudam expectativas, fazendo alguém crer que existe uma possibilidade de promoção, que na verdade será depois atribuída a outra pessoa. Ou ainda, quando são aproveitadas as competências e/ou o resultado do trabalho de alguém e as respectivas recompensas são apropriadas por outros indevidamente.

Mas há mais toxinas. A da insensibilidade, por exemplo, que se caracteriza-se pela inexistência da capacidade de leitura da atmosfera emotiva das pessoas, quando não se conseguem estabelecer empatias, ou quando não se percebe o impacte que se tem nos outros.

A toxina da intrusão, é igualmente interessante. É a que tem o poder de prender as pessoas, de tornar as pessoas viciadas em trabalho. O efeito perverso constata-se muitas vezes aquando da ruptura desses recursos humanos com a organização, e quando se deparam com o quanto se perdeu em vida familiar e social.

As toxinas que demonstram as forças institucionais, por seu lado, são menos intencionais e implicam normalmente uma falta de sensibilidade da organização para com as pessoas que a integram. Vários exemplos tóxicos poderão ser dados como o estabelecimento de uma política pouco moral, ou a explicitação de determinada missão que não seja efectuada na prática do quotidiano. Outra situação tóxica será um recrutamento que prometa benefícios que aquando da integração das pessoas sejam defraudados.

A última forma de toxina, que nos mostra Peter J. Frost, no seu delicioso livro “Toxic – Emotions at Work”, é a que tem a ver com a inevitabilidade. Pode referir-se a um impacte traumático, imagine-se, de um acidente de trabalho que vitima alguém. Ou o exercício de uma liderança que implique mudanças organizacionais drásticas ou referir-se simplesmente às mais variadas formas de vida de uma empresa nem sempre muito atenta à sua saúde relacional.

Eu já sei qual é a minha toxina, achou a sua?

Leitura relativa ao tópico:
Frost, P.J.(2003). Toxic – Emotions at Work: How Compassionate Managers Handle Pain and Conflict. Massachusetts: Harvard Business School Press.